Iniciado em 2016, o projeto ‘Flora de Santa Catarina’ busca catalogar, gerar e disponibilizar conhecimento sobre a flora do estado de Santa Catarina.

Coordenado pelo Ms.C. Luís Adriano Funez, e contando com a ajuda de diversos pesquisadores por todo o país, o projeto alcançou a marca de cerca de 2.000 plantas fotografadas e integradas ao acervo online do site, assim como devidamente depositadas em coleções científicas.

Dentre todas estas coletas, vamos aqui destacar algumas novidades científicas relevantes que o projeto alcançou:

  1. Saranthe ustulata

Uma espécie de caeté (família Marantaceae) tida como extinta, conhecida apenas por uma coleta do naturalista alemão Fritz Müller, cujo holótipo havia sido destruído durante a II Guerra Mundial, no museu de Berlin. Com esta descoberta, revelou-se que a espécie Saranthe ustulata ocorre em uma pequena população no município de Apiúna, ao contrário do indicado em sua descrição original (Blumenau). Abaixo, os links (nas imagens) para as reportagem do NSC produzidas sobre o fato:

Luís A. Funez com o epítipo de S. ustulata no herbário FURB. Link para a reportagem aqui
Reportagem televisionada aqui

2. Hypoxis atlantica

Durante uma expedição a campo nas Dunas do Santinho, em Florianópolis, encontramos alguns espécimes de Hypoxis que eram morfologicamente distintos da amplamente distribuída H. decumbens, com análises mais delicadas, logo percebemos tratar-se de uma espécie ainda não descrita, desta forma, a batizamos Hypoxis atlantica, pois trata-se de uma planta exclusiva das restingas dos estados da Bahia à Santa Catarina, vivendo em contato muito próximo ao Oceano Atlântico.

Hypoxis atlantica nas dunas do Santinho

3. Siphocampylus baccae e S. sevegnaniae

Duas novas espécies de Campanulaceae descobertas em encostas íngremes e cachoeiras do Alto Vale do Itajaí, ambas espécies endêmicas e criticamente ameaçadas de extinção. A primeira, foi batizada em homenagem ao professor Lauro Eduardo Bacca, a segunda em memória à professora Lúcia Sevegnani, pela suas incansáveis lutas em prol da conservação do meio ambiente.

Siphocampylus baccae
Siphocampylus sevegnaniae

4. Commelina catharinensis

Endêmica das restingas de Santa Catarina, trata-se da única espécie do gênero Commelina no Brasil a apresentar flores amarelas. A planta é extremamente rara e ocorre até então apenas entre Palhoça e Laguna, no sul do estado.

Exemplar de Commelina catharinensis na natureza

5. Tradescantia schwirkowskiana

Encontrada inicialmente no município de São Bento do Sul pelo botânico Paulo Schwirkowski, a espécie foi batizada em homenagem ao mesmo. Conhecida para poucas localidades, a espécie é apontada como ameaçada de extinção.

Tradescantia schwirkowskiana na natureza

6. Tradescantia serrana

Espécie encontrada no município de Bom Retiro, na região da Serra Catarinense, muito rara e conhecida apenas pela coleta típica da espécie, seu habitat, as florestas com Araucária, encontra-se severamente ameaçado.

Tradescantia serrana na natureza

7. Senecio reitzianus

Espécie endêmica da Ilha de Santa Catarina, até então era conhecida apenas pela coleta do exemplar tipo, que acreditava-se ser nas Dunas da Lagoa da Conceição, contudo, descobrimos que a planta ocorre exclusivamente no Costão do Santinho, no norte da Ilha, o que faz todo sentido, sendo que a coleta inicialmente fora realizada pelo padre Alfredo Rohr.

Senecio reitzianus no Costão do Santinho

8. Phyllanthus eremitus

Isolado no meio da floresta, em uma única “caverna” encontra-se os únicos exemplares desta planta, provavelmente uma das plantas mais raras do mundo, o Phyllanthus eremitus persistiu sobrevivendo em uma área de aproximadamente 20 m² até sua recente descrição.

Phyllanthus eremitus no rochedo do Eremitério

9. Oxypetalum marianae

Espécie endêmica da região dos Aparados da Serra Geral, crescendo em escarpas íngremes e pouco acessíveis da Serra Catarinense. Com suas diminutas flores verdes, a espécie passa despercebida à maioria dos olhares, contudo é bastante rara e encontra-se ameaçada de extinção.

Oxypetalum marianae na Serra do Corvo Branco

10. Phyllanthus timboënsis

Encontrada inicialmente no Parque Henry Paul, no centro de Timbó, a espécie levou o nome do município como epíteto, também encontrada em Doutor Pedrinho, esta planta é bastante rara e ameaçada de extinção.

Phyllanthus timboënsis no Parque Henry Paul

11. Persicaria sylvestris

Amplamente confundida nas coleções com a espécie P. acuminata, difere desta por uma séria de características. Embora recentemente tenha sido descrita, não encontra-se ameaçada de extinção, ocorrendo em diversas localidades de São Paulo a Santa Catarina.

Detalhes de Persicaria sylvestris em campo

12. Cleistes pallida

Encontrada em uma diminuta população, em um cume entre Rodeio e Benedito Novo, no alto Vale do Itajaí, esta raridade criticamente ameaçada de extinção pode ser vista em todo seu esplendor durante o mês de Fevereiro, quando floresce.

Detalhes da espécie C. pallida

13. Hoehnea grandiflora

Encontrada em um banhado no município de Rancho Queimado, esta plantinha extremamente aromática é a com as maiores flores dentro de seu gênero, por isso foi batizada com o epíteto ‘grandiflora’.

Detalhes de Hoehnea grandiflora em seu habitat

14. Ruellia reitzii

Descrita em homenagem a seu primeiro e até então único coletor, Raulino Reitz, esta espécie era tida como extinta até sua redescoberta em 2019, no município de Luiz Alves. Curiosamente a população estava às margens de uma rodovia próximo ao centro da cidade.

Ruellia reitzii no centro de Luiz Alves

15. Begonia ciliatifolia

Encontrada na mesma localidade do Phyllanthus eremitus, contudo sua população é relativamente muito maior, mas isto não faz com que ela deixe de ser ameaçada de extinção. Ocorre apenas na rocha do eremitus e na falha geológica da Fazenda Cristal, entre Rodeio, Benedito Novo e Ascurra.

Begonia ciliatifolia em Benedito Novo

16. Prosopanche demogorgoni

Planta parasita de raízes encontrada nos vassourais do Parque Nacional de São Joaquim, em Urubici. Trata-se do primeiro registro do gênero para o bioma Mata Atlântica.

Prosopanche demogorgoni em vassoural, Urubici